Nocturnal Animals(2016)
de Tom Ford, com Amy Adams, Jake Gyllenhaal, Michael Shannon e Aaron Taylor-Johnson
Não é todos os dias que um
distinto designer de moda se torna realizador de cinema. E muito menos se
imagina que este seja bem-sucedido. Nocturnal
Animals é o segundo filme de Tom Ford, que também se encarregou do papel de
guionista e produtor.
A obra tem a estrutura peculiar
de uma história dentro de uma história e segue Susan (Amy Adams) à medida que
lê o livro que Edward (Jake Gyllenhaal), o seu ex-marido, lhe dedicou. Um thriller
de vingança, que interpreta como uma metáfora para a sua relação ao recordar o
passado repetidamente.
Foi a já referida estrutura que
transita da vida de Susan para o livro de Edward que me cativou logo à partida.
Apesar de serem completamente diferentes à primeira vista, a interligação dos
dois planos permite vir à superfície as suas semelhanças. E pouco a pouco, a
influência de um nota-se noutro, com Susan atormentada pelas suas ações do
passado e o efeito dessas para o seu presente, que é diferente do que
imaginara. No fim, temos mesmo de analisar o filme como a ligação das duas
histórias, senão o fim pode parecer sem brilho.
Visualmente, Nocturnal Animals é uma obra-prima. Seamus McGarvey, que trabalhou
em Atonement
(2007) e Anna Karenina (2012), é o
responsável pela cinematografia. O luxo estético da vida da protagonista é
excelente no contraste que provoca com a falta de substância emocional da
mesma. É sofisticada, elegante e sensual, em contraposição às imagens das cenas
do livro. Aqui, os tons quentes predominam na maior parte, destacando a raiva e
o sentimento de vingança que é o tema. Ainda assim, até as imagens de
destruição continuam a ser bonitas à sua maneira e têm um papel importante na
maneira como interpretamos o filme, bem como os ângulos sobre as quais são
apresentadas.
Outro elemento que considero
relevante destacar é a banda sonora. Abel Korzeniowski criou um conjunto não
muito extenso de músicas, porque o silêncio também se sente e é balançado nos
momentos tensos. Porém, é algo que continua a sobressair e a ter um efeito
sobre o enredo ao criar um ambiente que nos englobe.
E nada disto valia de nada se o
elenco não acompanhasse a qualidade, que para mim nem há dúvida que o fez. Amy
Adams teve uma prestação incrível e a diferença da sua personagem entre as
linhas do passado e do presente é clara sem deixar de ser uniforme, unida numa
só identidade. Por outro lado, Jake Gyllenhaal assumiu dois papéis diferentes
no contexto da ação, no entanto com personalidades semelhantes, o que imagino ser
um desafio. Adicionalmente, Michael Shannon e Aaron Taylor-Johnson não
estiveram aquém dos dois cabecilhas e foram dos que trouxeram mais drama ao
plano da história literária.
Por fim, só tenho a acrescentar o
que é óbvio- a minha recomendação de Nocturnal
Animals. É um filme para os amantes de thrillers, sobre vingança e ódio com
uma crítica à sociedade superficial que considera a sensibilidade uma fraqueza.
