de Spike Jonze, com Joaquin Phoenix, Amy Adams, Scarlett Johansson e Rooney Mara
Já alguma vez pararam para pensar
em como é tão fácil darmos por nós a aceitar o nosso destino – e que triste
destino, por vezes – sem nos preocuparmos em interagirmos com a nossa espécie?
Damos por nós sozinhos no mundo e a achar que tudo é mais fácil atrás de um
ecrã, quando na verdade nos estamos a enganar só a nós próprios. Muitas vezes,
aquilo que nos faz falta está logo ali ao lado, mas nós recusamo-nos a
perceber.
Spike Jonze traz até nós uma obra
que nos faz pensar exaustivamente sobre este assunto. Daí a minha introdução.
Num futuro não tão longínquo assim, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix), tenta
recuperar de uma separação, vai adiando a assinatura que ditará o seu divórcio
com Catherine (Rooney Mara), e dá por si apaixonado por um Sistema Operativo
(Scarlett Johansson) sofisticado ao estilo Siri. O sistema atribui a si próprio
o nome de Samantha e pouco a pouco os dois apaixonam-se e embarcam numa
estranha relação que tanto pertence a uma espécie de utopia, como de repente é
um choque para a acordar para a realidade.
Her apresenta-se como uma crítica social cada vez mais atual e
pertinente. Traz até nós um cenário futurista que não parece se quer muito
distante e isso torna-se assustador. Quão difícil é querermos conexões físicas,
emocionais e, sobretudo, reais como outro ser de carne e osso? Porque é que é
tão ‘natural’ as pessoas afastarem-se umas das outras, criando uma espécie de
fobia a partilhar momentos com outros humanos?
O guião de Jonze, que venceu o
Oscar para Melhor Argumento Original em 2014, é realmente tremendo. Para além
de um Universo consistente, coeso e alicerçado nas bases dos dias de hoje,
transportando-as para um futuro – eu diria – distópico, oferece-nos ainda um
estudo de personagens nos seus personagens principais. Aquilo que podia ser
apenas um Sistema Operativo, é mais que isso. Aquilo que poderia ser apenas um
homem depressivo em busca do amor, é muito mais que isso.
Joaquin Phoenix interpreta brilhantemente
Theodore, um homem que é atormentado pela solidão, pelo desgosto amoroso e que
não consegue sair dessa zona cinzenta. Que tem medo de não voltar a sentir nada
ou no mínimo não sentir tanto como outrora sentiu. Theodore é muito mais que um
escritor de cartas de amor compradas que se sente sozinho na sua vida
particular. As suas centenas de camadas de narrativa são facilmente conectadas
com a audiência.
Em cima disso, Samantha é mais que
uma voz que faz companhia a Theodore. A interpretação de Johansson é também
bastante agradável e quase sempre percebemos o que Samantha sente, mesmo nunca
tendo a possibilidade de a ver. Spike Jonze está realmente de parabéns com esta
sua proposta de futuro.
Tecnicamente, o filme também não
perde muita qualidade. A realização é agradável, mas pouco mais que isso.
Embora se perceba a visão de Jonze em todos os outros departamentos. A
fotografia é compacta, bem composta e é acompanhada por belo design de produção. A forma como as
cores são escolhidas e onde são situadas trazem toda uma harmonia fantástica ao
quadro que nos é apresentado.
Ainda assim, o melhor aspeto
técnico para mim vem sob a forma da montagem. O ritmo introduzido no filme é
fantástico e tremendamente sensível. A obra desenrola-se no pace certo, nunca obstruindo a narrativa
mas também nunca deixando a tensão assentar.
Resumidamente, Her é um belíssimo filme que nos deve alertar, pelo menos. Devemos
pensar sobre nós, sobre os outros e sobre a relação entre duas ou mais pessoas.
Saiam mais, comuniquem mais, conectem-se mais. Impeçam que Her seja uma realidade daqui a 10 anos.
por Pedro Horta